quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Libertação

Almas poderosas desta terra
Fazei de mim estranha evasão,
Convertei a constante guerra
Em momentos dóceis de libertação.

Libertai a sensação
De ser sentinela do alento
E gritai com todo o coração:
Sou filho do brando vento.

Assim, são os conceitos definidos
Deste hino de glória cantado,
Soltai as amarras dos sentidos
E voai pelo prado molhado.

Olhai a imensidão verdejante
Da calmaria de ser natureza
Em rodopio viajante
Nos elementos da beleza.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A Alma Pontassolense

Ser PONTASSOLENSE...


Proclamar o espírito da vivência em cada dia que passa! Ser grande na ínfima grandeza de uma terra sem paralelo! Erguer no horizonte um nome digno de louvor, um nome com contornos heróicos, um nome pleno de existência...
Olhar cada verso e na medida da ocasião sentir que a profunda inquietação da superioridade é ser simples na sua simplicidade. Não querer o infinito, mas tê-lo, porque a infinidade e o clamor só são dignos de gente submetida ao ardor patriótico e crente da sua existência. Durante séculos, atropelaram-se momentos recalcados numa aura de esplendor e evidência! Foram séculos de válida história, cujas personagens nada devem à temida condição do esquecimento. Para sempre são lembrados e retidos num painel de profundo agradecimento e admiração. Afinal, a eternidade conquista-se! Talvez por isso, a Ponta do Sol seja eternamente eterna, infinita no seu glorioso esplendor, incandescente e sedenta de continuidade... Portanto, a história continua! Mudam-se as personagens, mas prevalece o símbolo supremo, a terra indefinidamente definida como o paraíso das rochas quentes.


Um sorriso, teu nome conquistou
Um quadro, tua paisagem pintou
Um poema, teu cheiro inspirou
Um amor, teu corpo alimentou.

Fazes-te minha terra
Por entre murmúrios cerrados,
Fazes-te montanha e serra
Por entre beijos apaixonados.

Fazes-te minha, só minha,
Na grandeza infinita do céu altivo
Desenhas em voo de andorinha
O fervor desta terra adjectivo.
Eis um pouco do meu trabalho poético que tem como tema principal a minha terra: Ponta do Sol. Este projecto conta já com dois anos e aguarda uma resposta da Câmara Municipal da Ponta do Sol no que toca a apoiar a sua publicação. Enquanto tarda a resposta, exponho um pouco do meu canto à terra indefinidamente definida como o paraíso das rochas quentes no único meio em que posso colher impressões e reacções ao que escrevi. Tudo isto para ter a certeza que não cantei em vão!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Corpo dançante

Dizem que dançar
É encarnar a essência do sangue quente
Sem nunca recusar
O breve momento presente!
Por isso, na vida,
Há que deixar o corpo
Dar largas ao movimento,
E em cada gesto descontrolado
Sentir o batimento
De um corpo já cansado...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Estrangeiros estrangeirando

Degenerada culpa dos mortais aflitos
Fugaz encontro de promessas feitas
Afinal que animais tão esquisitos
São estes de mentes desfeitas?

Estrangeiros estrangeirando
A política e a severidade
De um povo que foi ficando
Calmo, nos propósitos da idade.

Eis a literatura preguiçosa
O dever e a coragem
De uma nação vistosa
Mas escondida na desvantagem.

domingo, 17 de agosto de 2008

Contradições Poéticas

"Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto."

Luís de Camões



Pergunto-me:

Que "estado" será este de permanente contradição, onde a incerteza reage em cada verso desenhado?

E não encontro resposta concreta...

Apenas sei que a poesia desenha-se na afirmação impensável de ser uma contradição por contrariar! Desenhou-a assim Camões e defendo-a assim: contraditória e faminta de explicações intangíveis, delirante em cada verso por decifrar, libertadora de sentimentos e crenças inimagináveis...

E apenas digo,

Que a contradição
Seja o fundamento
Da célere convicção
Emanada do sentimento
De ser verso sem razão
Na alvorada do momento
Em que me dou à criação...

sábado, 16 de agosto de 2008

Autopsicografia II

Serei eu fingimento arremessado
Nas entrelinhas descritas
Por tão ilustre poeta finado?

Serei eu mentira nas palavras escritas
Com o fulgor expirado
Em tantas premissas aflitas?

Serei eu nexo descordenado
De privações malditas
Por meu coração libertado?

Serei eu vontade que gritas
No percurso exasperado
Destas chamas circunscritas?

Autopsicografia I

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse combóio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mundo incerto

A beleza da transcendência
Tão obsoleta e caricata
Na sua enorme evidência
De magnificente serenata.

Ora somos confronto
Da levadia,
Deste ponto;
Ora somos cobardia
Deste pequeno contraponto.

E não obedecemos ao supremo
Na ânsia de cortejar
A saúde do enfermo
Que já não mais sabe andar.

Esqueceu-se de coisa pequena
Tão banal e sistemática
Que deixou de ser serena
Pelas mãos da sorte dramática.

E ainda invejamos este mundo
Tão incerto e rudimentar,
Traiçoeiro a cada segundo,
Incessante e peculiar.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Rumores

O rumor das lágrimas esconde-se no intenso desejo de contrariar a versão das palavras por dizer. A pureza teima em sobressair num olfacto de intensas e fervorosas amostras que não percebem a manobra do masoquismo agudo inerente às voltas do perpétuo destino. Mas entristece-me a fatalidade, aquele pudor da sina humana, sem eira, nem beira! De facto, esta tristeza endoidece o meu sentir, numa mistura de amor e ódio, sem a perplexidade do sentimento que poderia habitar a minha alma.
Não sou reaccionária, nem tão pouco revolucionária! Apenas faço da luta continuidade de um profano entardecer à beira do extenso mar, porque creio na nefasta convicção de um ser além-fronteiras, uma elevada consternação do fulgor metafísico que vive na esperança de camuflar a sensatez do meu escárnio que nada tem de maldizer.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Busca no infinito


Sorriu,
Com uma alegria sonante,
Sem medos,
Triunfante,
Timidamente elegante...
Queria e podia!!!
Era esse o seu encanto,
A sua beleza pura
Que fazia do espanto
Noite clara em noite escura...
Procurava!
Existia!
Isso era o desafio,
O obstáculo,
A agulha sem fio...
Voltava a procurar,
Aqui...
E além...
Até encontrar
Uma pessoa... alguém...
E nesta busca singela
Não havia rocha dura,
Apenas uma flor bela,
Apenas uma manhã pura...
Amor do Meu Viver, pag.14

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Palavras conquistadas

Amanheceu...
Sentada em frente ao computador não sei o que escrever... Não sei se cante o amor, não sei se cante a ilusão, não sei se finjo ser dor ou tão somente paixão... Não sei... Dentro de mim há um resquício de tristeza divagante, um pedaço de frieza que gela a vontade de sentir a evasão das palavras atrevidas. Hoje, sinto-me pequena perante o poderio da escrita poética. Talvez demasiado pequena para me atrever a cantar por versos o que vai cá dentro em tempestade. As lembranças arrebatam a forma impura deste sentir com questões e interrogações perburbantes! Pergunto-me: será que fiz bem ou simplesmente não fiz? Perdi ou simplesmente não deixei ganhar? Ganha-se a vida num minuto e num segundo perde-se a sensação de ser vida e tudo porque nada é eterno. Nada, nem mesmo as palavras conquistadas...

domingo, 10 de agosto de 2008

Canção do Mundo


A noite soma a vontade
De um querer sem igual,
Ajoelha-se perante a saudade
E navega no franco mar.
E por mais que se opunham os ventos
Há sempre um pretérito,
A razão de belos momentos
Perdida num mundo imperfeito.
Afinal, se o mundo fosse um grito sem som,
Calavam-se os mudos
A música da vida teria outro tom
Cantar seria encantar
E o mundo seria uma canção
Levada nas ondas do mar...

sábado, 9 de agosto de 2008

Perdições Comentadas



Perdições comentadas
Pelas conversas desgarradas,
Almas e contradições
Vestidas de calções
Em pleno roteiro
Viajando sem mistério.

Criam-se vontades,
Imperativos,
Bondades,
Alvos relativos,
Bruscas efemeridades
De brancos nativos
Buscando verdades.

Reagem as proposições
Em sintonia deslumbrante
E como raios de poções
Misturam-se em rito cintilante
No breu relativo das sensações,
Na noite abrupta e relutante.

Rios de saudade penetram a imensidão
Da correria fingida,
Correm em busca da direcção
Fogem da dor conhecida
Fingem ser escuridão
De uma ligação esquecida.

Mas não questiono a evidência
De um libertino sentimento
A que muitos chamam sapiência
De longos anos de sofrimento
Ao lado da mãe ciência,
Gritando e chorando o mandamento
Do devaneio da inconsciência.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Geometria Lembrada



Em círculos
Em quadrados
Em grandes cubículos
Ou em pequenos arados...
Tudo peca por passar
Na efemeridade da lembrança
Mais rápida que o navegar
Em noites de esperança.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Quadrado Espaçoso

Um supremo contradizer
Percorre o frio fogo da paisagem
Acabada de nascer
Sem alma, selvagem.

Invento alegrias goradas,
Fumaça de um belo renascer
Feito de estrelas incendiadas

E provérbios por dizer…


Confirmamos o poder da plenitude e mesmo sem querer somos levados pela onda da inquietude tão irrequieta e inconstante. Não somos nada perante a imensidão acrílica deste quadrado espaçoso a que chamamos esfera terrestre. Confiamos nas estrelas, aquelas luzes cintilantes que nada têm de astros, mas que com eles se confundem e somos como que empurrados por uma força oculta e tentadora para o fundo da inquietação vivencial...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Estradas Repletas

Hoje o dia está triste,
Mas na sua tristeza indelicada
Olho a estrada repleta,
Rua de gente, apinhada,
Rua tão cheia e deserta,
Rua de poesia criada...

Não sei o que me deu hoje, mas acordei e olhei a estrada da minha rua de uma forma diferente. Hoje, decidi caminhar no seu alcatrão pisado e entrelaçar o rigor das linhas pálidas num canto profundo criando um Blog para o mundo. Hoje, decidi que as palavras são o meu maior aliado nesta guerra de pretensões e sensações a que muitos chamam vivências, mas eu prefiro denomina-las de reacções apáticas. Sim, apáticas. Porque a apatia é a poesia desta rua imóvel, impávida e serena no seu ritmo quieto.

Hoje proponho-me a ser fiel caminhante das Estradas Repletas desta vida!