terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fogueira corporal


Chamei-te...
A perícia do tempo a esvoaçar
Tocou-me o rosto levemente
Como se quisesse levar
Aquilo que me deixa ausente.

Ouvi-te...
Aquele murmúrio rasgado
Ecoou alma acima
E fez-se barco ancorado
Nesta fogueira que é rima.

Senti-te...
Afáveis desejos encarnados
Realçaram a liberdade
De dois corpos apaixonados
Que se deram com vontade.


domingo, 28 de dezembro de 2008

Animal herbívoro


Acabava a espera prudente. Não podia esboçar um sorriso, pois seria demasiado evidente verter a sensação do despudor que me consome em chamas rebeldes. Ausento-me... Perdida no meio de algo que finjo conhecer, sinto-me frágil e inquieta. Não percebo a dimensão dos sons que deturpam a voz da aragem fria expelida pelo tempo menor. Não percebo o fulgor da liberdade que se passeia pelos recintos verdejantes de um prado feito jardim. Se fosse animal herbívoro curvar-me-ia perante a frescura da erva comestível e vagarosamente roçaria os pedaços verdes e lânguidos na minha boca, sem pensar como havia ali chegado. Simplesmente, sucumbiria à vontade de comer, como se o mundo fosse somente o alimento que me dá. Mas, eu não sou um mero animal herbívoro...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Leituras Soltas - Uma escrita solidária


O livro "Leituras Soltas" nasce de um sonho proposto pelo autor António Barroso Cruz à Fnac Madeira e ao Liberal. Mais do que divulgar a produção literária regional, esta compilação de textos de 11 autores madeirenses, do qual me orgulho fazer parte com o conto "Na palma da mão", enfatiza o papel que todos devemos ter na promoção da solidariedade para os que têm menos que nós, pelo que a totalidade das receitas do livro reverte para a Secção Regional da AMI e para o Rotary Clube do Funchal.


Quero endereçar um agradecimento especial ao António Cruz pelo convite para fazer parte deste projecto lindíssimo, que tanto apela ao espírito natalício (bem ao jeito do meu nome) e promove, igualmente, o que de bom se faz na Madeira em termos de escrita.

Para terminar,


"Um bem-haja a quem acredita em nós"

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Convite - Lançamento "Leituras Soltas"


Traga a família e amigos e ajude a soltar este projecto, do qual me orgulho fazer parte com o conto "Na palma da mão", graças ao convite (em jeito de desafio - afinal nunca tinha escrito um texto em prosa) do António Barroso Cruz, a quem, desde já, agradeço.



"Passavam por ela os comentários da irreal conversa tida nos loucos anos da sua adolescência com aquela velhinha que dizia ler o futuro olhando os traços da palma da mão. Passavam, como se o fio da lembrança fosse um trem que corre em direcção à herança secreta outrora revelada pela velhinha, mas recebida com gargalhadas e desdém."


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Bonança


Firmes são os passos da oculta dimensão da peripécia. Regulam-se pelas tormentas avindas daquela submissão imprópria de um humano qualquer e formam-se como coágulos acérrimos em tempo de enfermidades inesperadas. Dói a alma e nem a força de um trovão flecte a evidência nublada. E pergunto-me: valeu a pena dedicar os dias da existência à libertação do corpo e da mente? Por momentos, o vago silêncio faz-se sangue nas veias e artérias deste corpo feito alma. Mas a resposta não tarda: valeu, porque depois da tempestade vem a bonança.