sábado, 25 de junho de 2011

Enviesamento

Querer-te na submissão submissa de um regaço
Desejar-te na rebelião passiva de um abraço
Enviesar-me na distância de um tempo comprido
Promessa regular de um suspiro gemido.

Parca de ideias, deixo-me elevar
Na sentinela reforçada do momento
Em que o poema se faz rimar
E em versos absortos ergue-se o esqueleto.

Deixo-me cobiçar pela prontidão da lividez
Incolor rosto de escrita irregular
Corpo poético deixado na rigidez
De uma estética quase peculiar.

Natália Bonito

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Homenagem à professora e escritora Gizela Dias da Silva

Hoje, pelas 18 horas, no Museu Casa da Luz, foi homenageada a professora e escritora Gizela Dias da Silva. Um momento único e bastante emotivo, que contou com a presença de muitos amigos, familiares e admiradores desta Grande Senhora. Este evento teve como principal mentora a escritora e amiga Isabel Fagundes.

Deixo-vos aqui um pouco da poesia de Gizela Dias da Silva...

O Sol vai alto no firmamento
Rompendo as clareiras do espaço.
Pouco a pouco, meu pensamento
Clareia aquilo que faço.

É hora de actividade.
Tudo anda num reboliço,
Pessoas e animais.
Até a própria Natureza,
Sem nos darmos conta disso,
Mostra sua subtileza
Em tudo aquilo que faz,
Com grande facilidade.

Avança a nuvem ligeira,
Desce o Sol no horizonte,
Desfalece a Terra inteira,
Faz-se silêncio no monte.

E as negras sombras da noite
Chegam e estendem os lençóis.
As flores e as folhinhas,
Caídas lá da ramagem,
Choram com frio, sozinhas,
Mas, ao sabor da aragem,
Dormitam bem sossegadas,
Pelas sombras abafadas.

E nós com o dever cumprido
Nos recolhemos ao lar.
Com um ar comprometido,
A noite olha para nós,
Para nos aconchegar,
Porque ela marca o fim
Das horas que o dia tem.
Tudo tem que ser assim,
Neste mundo de vaivém.

O dia é claridade;
A noite, escuridão;
A vida, vivacidade;
A morte, queda no chão.

Gizela Dias da Silva

terça-feira, 21 de junho de 2011

Relógio exasperado

Não me importo com as saudações
Que me irão saudar,
Pois sabendo que me vêm em privações
Sofro sem chorar
Um pranto seco de emoções
Tormento infiel do verbo rezar.

Não me importo que as tormentas
Reajam em debandada
Cultivo a lembrança das pressas lentas
Um instinto que me guarda
Na invernia das razões desatentas
Que se dão à desgarrada.

Por isso, canto a parca valentia
Dum dissabor evocado:
Sou eu alma e rebeldia,
Refúgio de um tempo calado
Fintando a supremacia
Do relógio exasperado.