terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fogueira corporal


Chamei-te...
A perícia do tempo a esvoaçar
Tocou-me o rosto levemente
Como se quisesse levar
Aquilo que me deixa ausente.

Ouvi-te...
Aquele murmúrio rasgado
Ecoou alma acima
E fez-se barco ancorado
Nesta fogueira que é rima.

Senti-te...
Afáveis desejos encarnados
Realçaram a liberdade
De dois corpos apaixonados
Que se deram com vontade.


domingo, 28 de dezembro de 2008

Animal herbívoro


Acabava a espera prudente. Não podia esboçar um sorriso, pois seria demasiado evidente verter a sensação do despudor que me consome em chamas rebeldes. Ausento-me... Perdida no meio de algo que finjo conhecer, sinto-me frágil e inquieta. Não percebo a dimensão dos sons que deturpam a voz da aragem fria expelida pelo tempo menor. Não percebo o fulgor da liberdade que se passeia pelos recintos verdejantes de um prado feito jardim. Se fosse animal herbívoro curvar-me-ia perante a frescura da erva comestível e vagarosamente roçaria os pedaços verdes e lânguidos na minha boca, sem pensar como havia ali chegado. Simplesmente, sucumbiria à vontade de comer, como se o mundo fosse somente o alimento que me dá. Mas, eu não sou um mero animal herbívoro...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Leituras Soltas - Uma escrita solidária


O livro "Leituras Soltas" nasce de um sonho proposto pelo autor António Barroso Cruz à Fnac Madeira e ao Liberal. Mais do que divulgar a produção literária regional, esta compilação de textos de 11 autores madeirenses, do qual me orgulho fazer parte com o conto "Na palma da mão", enfatiza o papel que todos devemos ter na promoção da solidariedade para os que têm menos que nós, pelo que a totalidade das receitas do livro reverte para a Secção Regional da AMI e para o Rotary Clube do Funchal.


Quero endereçar um agradecimento especial ao António Cruz pelo convite para fazer parte deste projecto lindíssimo, que tanto apela ao espírito natalício (bem ao jeito do meu nome) e promove, igualmente, o que de bom se faz na Madeira em termos de escrita.

Para terminar,


"Um bem-haja a quem acredita em nós"

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Convite - Lançamento "Leituras Soltas"


Traga a família e amigos e ajude a soltar este projecto, do qual me orgulho fazer parte com o conto "Na palma da mão", graças ao convite (em jeito de desafio - afinal nunca tinha escrito um texto em prosa) do António Barroso Cruz, a quem, desde já, agradeço.



"Passavam por ela os comentários da irreal conversa tida nos loucos anos da sua adolescência com aquela velhinha que dizia ler o futuro olhando os traços da palma da mão. Passavam, como se o fio da lembrança fosse um trem que corre em direcção à herança secreta outrora revelada pela velhinha, mas recebida com gargalhadas e desdém."


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Bonança


Firmes são os passos da oculta dimensão da peripécia. Regulam-se pelas tormentas avindas daquela submissão imprópria de um humano qualquer e formam-se como coágulos acérrimos em tempo de enfermidades inesperadas. Dói a alma e nem a força de um trovão flecte a evidência nublada. E pergunto-me: valeu a pena dedicar os dias da existência à libertação do corpo e da mente? Por momentos, o vago silêncio faz-se sangue nas veias e artérias deste corpo feito alma. Mas a resposta não tarda: valeu, porque depois da tempestade vem a bonança.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Pensar

Rejeitei a pista necessária à sobrevivência num acto desesperante. Gritos ecoaram em grandes fileiras, promovendo a agressividade passiva de um desleixo convexo. Talvez por isso tenha desamarrado a premissa recalcada daquela vertente do pensamento. Talvez por isso tenha entoado um cântico redondo na plural dimensão terrestre a que muitos chamam cubículo de vida. Sinceramente, não sei o que fiz. Encosto-me ao corrimão daquela varanda que dá para o mar e nele sinto o frio férreo da inquietação ofegante. Respirar rapidamente é o que me resta neste desnorte feito de sílabas coercivas. Penso. Mas saberei ainda pensar? Pensar... Pensar... Pensar... Repito a palavra três vezes e três vezes me pergunto: quem és tu? Agrego esta confusão e finto a calmaria do horizonte plano e, por momentos, não penso o que será pensar algo que não quer ser pensado.

domingo, 12 de outubro de 2008

Manhã Outonal


A manhã explode no esplendor do murmúrio de uma aragem. Sente-se o cantar dos pássaros a passear pelos labirintos recônditos daquela floresta a que chamam nascer do sol. Afasto a cortina e um raio quente beija-me a pele. Por momentos, penso que és tu que me tocas suavemente, mas essa ilusão desfaz-se em menos de um segundo. Olho o céu despido de nuvens e concentro o meu desencanto numa folha de Outono caída. É essa folha sinónimo de vontade, pois é ela que herda a riqueza táctil do vento nocturno, enquanto eu durmo no alcatrão polido da cama morna. Morna, sim, porque tu não estás! A solidão faz-se prantear de uma distância caiada de esperança. Espero-te, não nego, esperançosa e faminta de tudo o que simbolizas. Espero-te na foz de um semblante carregado que perdoa a ausência com beijos e carícias.
E morro nesta espera de nada. Trespassa-me uma espada de gumes duvidosos, levando-me a contenda da dispersão para longe da minha alma desamparada. E apenas esboço um leve gemido de dor pela perda daquilo que nunca tive, uma perda falseada pelos alardes silenciosos de uma manhã outonal.

sábado, 4 de outubro de 2008

"Lugar aos Outros" - Estúdio Raposa

Porque ainda não cheguei às estrelas...

Caro Visitante,
Convido-o a ouvir o programa "Lugar aos Outros", do Estúdio Raposa, dedicado à minha poesia, clicando no seguinte link: http://www.estudioraposa.com/index.php/03/10/2008/lugar-94-natalia-bonito/.
Não posso deixar de endereçar um agradecimento especial ao Luís Gaspar, que mui gentilmente acolheu e recitou os meus poemas. Parabéns pelo seu programa que muito contribui para a divulgação do trabalho de tantos autores que por aí deambulam.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Simplesmente, POESIA...

Quando escrevo poesia proponho-me a converter a magia das palavras em versos aglutinados e vertiginosos. No momento em que escrevo, impera uma descontração que quase se confude com a irracional razão de pensar o que escrever. Mas pergunto-me, será mesmo que estou descontraída, ao ponto de pensar, no acto da criação? Pergunta díficil esta que não ouso responder, preferindo deixá-la no espaço retórico da minha mente. Apenas sei que naquele momento em que me proponho cantar por estrofes o que cá dentro vai em tumulto, sou livre. Sou tão livre, que vejo no sublime encanto da pura inquietude um mar extenso, envolto na onda perdida daquele manto feito poema. Sou tão livre que me perco na irrealidade desta janela e finto a imensidão horizontal do mar que se transfigura na contenda da escrita. Por momentos, a rocha eclode e as rimas suportam o peso de falarem por gritos um silêncio vago. Eis que surge o verso, a estrofe, o poema. Em menos de um minuto consigo oscilar entre o choro e a alegria, entre o amor e a dor, entre a realidade e o imaginário. E vêm-me à memória as palavras de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a pensar que é dor/ A dor que deveras sente.”
Mas, Serei eu fingimento arremessado/ Nas entrelinhas descritas/ Por tão ilustre poeta finado?/ Serei eu mentira nas palavras escritas/ Com o fulgor expirado/ Em tantas premissas aflitas?/ Serei eu nexo descordenado/ De privações malditas/ Por meu coração libertado?/ Serei eu vontade que gritas/ No percurso exasperado/ Destas chamas circunscritas?
Não sei! Umas vezes talvez sim, outras talvez não. No dia do lançamento do livro “O dia antes da eternidade”, Joana Aguiar, a autora do mesmo, disse algo do género: “Não escrevo tudo o que sinto, mas sinto tudo o que escrevo.” Acho que esta frase encerra em si muito da relação poeta-poema. Muitas vezes, esta relação é dominada por um estado de permanente contradição, onde a incerteza reage em cada verso desenhado e não sabemos se escrevemos o que sentimos ou simplesmente sentimos o que escrevemos. Já Luís de Camões dizia: "Tanto de meu estado me acho incerto,/ Que em vivo ardor tremendo estou de frio;/ Sem causa, juntamente choro e rio;/ O mundo todo abarco e nada aperto."
Pois é amigos, a poesia desenha-se na afirmação impensável de ser uma contradição por contrariar! Desenhou-a assim Camões e defendo-a assim: contraditória e faminta de explicações intangíveis, delirante em cada verso por decifrar, libertadora de sensações e crenças inimagináveis. Simplesmente, poesia...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Lançamento "A Janela deste Mar"


Por momentos, a rocha eclode e as rimas suportam o peso de falarem por gritos um silêncio vago.


Abri "A Janela deste Mar", com a ajuda do escritor António Barroso Cruz e dos elementos Grupo de Teatro da Casa do Povo da Ponta do Sol (a ambos um agradecimento muito especial), no dia 27 de Setembro. Olhar o auditório semi-repleto, com tantos amigos (e amigos dos meus amigos) foi um calmante eficaz para os nervos de uma (ainda) principiante que ousou se aventurar pelos meandros da escrita poética. Agora, espero reacções de todos os que irão ler os meus versos. Aos que não puderam estar presentes, mas querem sentir a maresia que emana desta "Janela", podem fazê-lo adquirindo o livro:


- através do site da Corpos Editora: http://www.corposeditora.com/


- endereçando-me um e-mail: nataliabonito@hotmail.com (assim, poderão ter o livro autografado).

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Lançamento do livro "A Janela deste Mar"



Caro Visitante,



Convido-o para o lançamento do meu recente livro de poesia intitulado 'A Janela deste Mar', no dia 27 de Setembro, no auditório do Centro Cultural John dos Passos, pelas 18h. A apresentação do trabalho estará a cargo do escritor António Cruz e haverá um recital de poesia pela mão dos elementos do Grupo de Teatro da Casa do Povo da Ponta do Sol.

Traga a família e amigos e sinta a maresia deste mar feito poema. Ajude a abrir esta janela, cujas cortinas mais não são que versos deitados na encosta de um livro que conta com 65 páginas. Nunca esqueça que a poesia (rima com economia) é mais que uma molécula de um átomo feito verso. Ela é o farol incandescente dos mundanos viajantes que se fazem ao mar e desenham cada pedaço da sua vida na aura celeste da dimensão horizontal.



Prometo um final de tarde muito poético!



Já dizia o velho poeta:
Palavras são inquietação,
Uma forma muito suspeita
De movimentar o coração...
Só me realizo
Se o permanente movimento
For um pobre sorriso
Na voz do firmamento!
Eis uma condição poética,
Um efémero instinto
Despido de estética,
Apenas seco e faminto...



Passe a palavra...



Cumprimentos poéticos,


Natália Bonito

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Instinto

Função ou veredicto final?
Coração ou instinto animal?
Eis o fundamento da existência
A grande dúvida existencial.

Virtude dos virtuosos acérrimos
Na disposição por despertar:
Não há nada por olhar,
Nem ricos, nem paupérrimos,
Somente prisioneiros por libertar.

E se dúvidas existir
Neste mar de louca indiferença,
Não serei eu pobre desistir,
Clamarei a força e a resistência!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A eterna loucura de uma criação que salva


"Aos dezoito anos, descobri os outros nomes da Poesia: Loucura, Criação e Salvação."


Joana Aguiar


Já li e reli... Ou não fosse eu eterna apaixonada da (re)leitura...


Porque há sempre coisas por descobrir no alinhamento feito verso...


Porque há sempre uma conjugação de palavras, cuja mestria nos inebria de tal forma que a única maneira de suster a ânsia que nos invade é ler e reler tudo vezes sem conta, mastigando cada contorno da eterna dimensão escrita e descrita em monólogos e poemas que discorrem murmúrios...


Porque o O Dia antes da Eternidade, de Joana Aguiar é a crença pulsante de que a poesia é algo mais que desenhar e conjugar palavras e frases. Este Dia estende-se na eternidade primordial de não ser desenho ao acaso. Este Dia bebe a loucura maternal e faz-se filho de uma inspiração salvadora. Este Dia não morre hoje...


Porque "Há poetas que enlouquecem em bocas de mármore."


Digo-vos,

Eternos são os passos
Da libertação de um olhar,
São promessas feitas regaços
Raios que ousam criar
Com mestria os ledos compassos
Da pauta musical por tocar
A eternidade dos abraços.


Joana, acompanharei a eternidade dos teus escritos... A todos os que querem também acompanha-la http://ococeualto.blogspot.com/.



quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Crise criativa

Conversões
E distorções
No meio de multidões.

Tanto sofrer
Na agonia do meu ser,
Tanto perder
Na vitória do meu saber.

Não sei se ouso gritar
Na planície sintética
Deste efémero respirar
Tão impróprio, de convicção patética.

Não sei se comento a rebeldia
Do sôfrego distar da minha mente
Escrito na escultura do dia
E remendado pela voz da Gente.

Porque escrevo a luz da presença
Que levemente me faz cair
Aos pés da criação sem licença
E me dá vontade de esculpir
Uma obra nobre, intensa,
Obra do verbo sentir;

Porque desenho na fronte desgarrada
Da folha vazia,
Enxuvalhada,
Folha que ansiava o dia
Em que seria amada
Pela tinta vadia;

Confesso ser poeta fiel
Ao critério de não passar
A imagem para o papel
Mas apenas imaginar
Palvras doces, feitas de mel,
Palavras que fazem girar
A haste do pequeno tornel.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Apaixonantes sensações

Poema 2º classificado no passatempo "Dia dos Namorados" promovido pela Junta de Freguesia de Machico. Para ouvir a versão áudio do poema clique http://www.jf-machico.pt/actividades2008/Poemas%202008/POEMAS%20S%20VALENTIM%20MX%20-%2021.MP3
Arde em mim a sensação
Dos minutos sem fim
Como se tudo fosse inspiração
Doce, com sabor a jasmim,
Como se eu fosse alma e coração
E tu pedaço de mim.

Clamo a evidência perfeita
Dos abraços ancorados
Na submissão desfeita
Pelo poder dos corpos suados
Que em cada palavra eleita
Oferecem poemas amados.

Olho o infinito da escuridão
Nesta noite de calmaria,
E sonho com a tua mão
Estendida na periferia
Do meu latente coração
Num gesto de sintonia.

Por instantes, sinto o teu respirar
Bem perto da liberdade
Que a minha mente teima em traçar
Com purpurina e vaidade
Na esperança de ver chegar
O momento da feliz verdade.

E vejo-te, ao longe, a sorrir…
Aproximas-te com lentos passos
Regateando as flores por abrir
Com gestos delicados e rasos
Que fazem lembrar notas a cair
Na pauta musical dos abraços.

És tu, apaixonante,
A vida do meu respirar;
És tu, meu amante,
Alma límpida por amar,
Rosto marcante
Que teima em ficar.

Ingrata submissão

Regresso à existência
Inexistente deste abraço
Como se a clemência
De cada passo
Não fosse mais que veemência
Inculto cansaço
Vil desobediência.

Sigo as pinceladas
Do quadro pintado à beira mar
Onde as ondas apaixonadas
Quiseram beijar
As pedras encharcadas
Das palavras por poetizar
Rudes ausências demoradas.

E mais uma vez regresso ao seguimento
Da curvatura lembrada
Nos céus do firmamento
Onde a lua ancorada
Dançou ao sabor do vento
Uma dança recusada
Sem desculpa ou argumento.

Sigo com o espírito calado,
A alma cede e é só escuridão
No resquício rasgado
Do meu coração
Despedaçado
Pela ingrata submissão
De ser apaixonado.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Libertação

Almas poderosas desta terra
Fazei de mim estranha evasão,
Convertei a constante guerra
Em momentos dóceis de libertação.

Libertai a sensação
De ser sentinela do alento
E gritai com todo o coração:
Sou filho do brando vento.

Assim, são os conceitos definidos
Deste hino de glória cantado,
Soltai as amarras dos sentidos
E voai pelo prado molhado.

Olhai a imensidão verdejante
Da calmaria de ser natureza
Em rodopio viajante
Nos elementos da beleza.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A Alma Pontassolense

Ser PONTASSOLENSE...


Proclamar o espírito da vivência em cada dia que passa! Ser grande na ínfima grandeza de uma terra sem paralelo! Erguer no horizonte um nome digno de louvor, um nome com contornos heróicos, um nome pleno de existência...
Olhar cada verso e na medida da ocasião sentir que a profunda inquietação da superioridade é ser simples na sua simplicidade. Não querer o infinito, mas tê-lo, porque a infinidade e o clamor só são dignos de gente submetida ao ardor patriótico e crente da sua existência. Durante séculos, atropelaram-se momentos recalcados numa aura de esplendor e evidência! Foram séculos de válida história, cujas personagens nada devem à temida condição do esquecimento. Para sempre são lembrados e retidos num painel de profundo agradecimento e admiração. Afinal, a eternidade conquista-se! Talvez por isso, a Ponta do Sol seja eternamente eterna, infinita no seu glorioso esplendor, incandescente e sedenta de continuidade... Portanto, a história continua! Mudam-se as personagens, mas prevalece o símbolo supremo, a terra indefinidamente definida como o paraíso das rochas quentes.


Um sorriso, teu nome conquistou
Um quadro, tua paisagem pintou
Um poema, teu cheiro inspirou
Um amor, teu corpo alimentou.

Fazes-te minha terra
Por entre murmúrios cerrados,
Fazes-te montanha e serra
Por entre beijos apaixonados.

Fazes-te minha, só minha,
Na grandeza infinita do céu altivo
Desenhas em voo de andorinha
O fervor desta terra adjectivo.
Eis um pouco do meu trabalho poético que tem como tema principal a minha terra: Ponta do Sol. Este projecto conta já com dois anos e aguarda uma resposta da Câmara Municipal da Ponta do Sol no que toca a apoiar a sua publicação. Enquanto tarda a resposta, exponho um pouco do meu canto à terra indefinidamente definida como o paraíso das rochas quentes no único meio em que posso colher impressões e reacções ao que escrevi. Tudo isto para ter a certeza que não cantei em vão!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Corpo dançante

Dizem que dançar
É encarnar a essência do sangue quente
Sem nunca recusar
O breve momento presente!
Por isso, na vida,
Há que deixar o corpo
Dar largas ao movimento,
E em cada gesto descontrolado
Sentir o batimento
De um corpo já cansado...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Estrangeiros estrangeirando

Degenerada culpa dos mortais aflitos
Fugaz encontro de promessas feitas
Afinal que animais tão esquisitos
São estes de mentes desfeitas?

Estrangeiros estrangeirando
A política e a severidade
De um povo que foi ficando
Calmo, nos propósitos da idade.

Eis a literatura preguiçosa
O dever e a coragem
De uma nação vistosa
Mas escondida na desvantagem.

domingo, 17 de agosto de 2008

Contradições Poéticas

"Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto."

Luís de Camões



Pergunto-me:

Que "estado" será este de permanente contradição, onde a incerteza reage em cada verso desenhado?

E não encontro resposta concreta...

Apenas sei que a poesia desenha-se na afirmação impensável de ser uma contradição por contrariar! Desenhou-a assim Camões e defendo-a assim: contraditória e faminta de explicações intangíveis, delirante em cada verso por decifrar, libertadora de sentimentos e crenças inimagináveis...

E apenas digo,

Que a contradição
Seja o fundamento
Da célere convicção
Emanada do sentimento
De ser verso sem razão
Na alvorada do momento
Em que me dou à criação...

sábado, 16 de agosto de 2008

Autopsicografia II

Serei eu fingimento arremessado
Nas entrelinhas descritas
Por tão ilustre poeta finado?

Serei eu mentira nas palavras escritas
Com o fulgor expirado
Em tantas premissas aflitas?

Serei eu nexo descordenado
De privações malditas
Por meu coração libertado?

Serei eu vontade que gritas
No percurso exasperado
Destas chamas circunscritas?

Autopsicografia I

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse combóio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mundo incerto

A beleza da transcendência
Tão obsoleta e caricata
Na sua enorme evidência
De magnificente serenata.

Ora somos confronto
Da levadia,
Deste ponto;
Ora somos cobardia
Deste pequeno contraponto.

E não obedecemos ao supremo
Na ânsia de cortejar
A saúde do enfermo
Que já não mais sabe andar.

Esqueceu-se de coisa pequena
Tão banal e sistemática
Que deixou de ser serena
Pelas mãos da sorte dramática.

E ainda invejamos este mundo
Tão incerto e rudimentar,
Traiçoeiro a cada segundo,
Incessante e peculiar.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Rumores

O rumor das lágrimas esconde-se no intenso desejo de contrariar a versão das palavras por dizer. A pureza teima em sobressair num olfacto de intensas e fervorosas amostras que não percebem a manobra do masoquismo agudo inerente às voltas do perpétuo destino. Mas entristece-me a fatalidade, aquele pudor da sina humana, sem eira, nem beira! De facto, esta tristeza endoidece o meu sentir, numa mistura de amor e ódio, sem a perplexidade do sentimento que poderia habitar a minha alma.
Não sou reaccionária, nem tão pouco revolucionária! Apenas faço da luta continuidade de um profano entardecer à beira do extenso mar, porque creio na nefasta convicção de um ser além-fronteiras, uma elevada consternação do fulgor metafísico que vive na esperança de camuflar a sensatez do meu escárnio que nada tem de maldizer.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Busca no infinito


Sorriu,
Com uma alegria sonante,
Sem medos,
Triunfante,
Timidamente elegante...
Queria e podia!!!
Era esse o seu encanto,
A sua beleza pura
Que fazia do espanto
Noite clara em noite escura...
Procurava!
Existia!
Isso era o desafio,
O obstáculo,
A agulha sem fio...
Voltava a procurar,
Aqui...
E além...
Até encontrar
Uma pessoa... alguém...
E nesta busca singela
Não havia rocha dura,
Apenas uma flor bela,
Apenas uma manhã pura...
Amor do Meu Viver, pag.14

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Palavras conquistadas

Amanheceu...
Sentada em frente ao computador não sei o que escrever... Não sei se cante o amor, não sei se cante a ilusão, não sei se finjo ser dor ou tão somente paixão... Não sei... Dentro de mim há um resquício de tristeza divagante, um pedaço de frieza que gela a vontade de sentir a evasão das palavras atrevidas. Hoje, sinto-me pequena perante o poderio da escrita poética. Talvez demasiado pequena para me atrever a cantar por versos o que vai cá dentro em tempestade. As lembranças arrebatam a forma impura deste sentir com questões e interrogações perburbantes! Pergunto-me: será que fiz bem ou simplesmente não fiz? Perdi ou simplesmente não deixei ganhar? Ganha-se a vida num minuto e num segundo perde-se a sensação de ser vida e tudo porque nada é eterno. Nada, nem mesmo as palavras conquistadas...

domingo, 10 de agosto de 2008

Canção do Mundo


A noite soma a vontade
De um querer sem igual,
Ajoelha-se perante a saudade
E navega no franco mar.
E por mais que se opunham os ventos
Há sempre um pretérito,
A razão de belos momentos
Perdida num mundo imperfeito.
Afinal, se o mundo fosse um grito sem som,
Calavam-se os mudos
A música da vida teria outro tom
Cantar seria encantar
E o mundo seria uma canção
Levada nas ondas do mar...

sábado, 9 de agosto de 2008

Perdições Comentadas



Perdições comentadas
Pelas conversas desgarradas,
Almas e contradições
Vestidas de calções
Em pleno roteiro
Viajando sem mistério.

Criam-se vontades,
Imperativos,
Bondades,
Alvos relativos,
Bruscas efemeridades
De brancos nativos
Buscando verdades.

Reagem as proposições
Em sintonia deslumbrante
E como raios de poções
Misturam-se em rito cintilante
No breu relativo das sensações,
Na noite abrupta e relutante.

Rios de saudade penetram a imensidão
Da correria fingida,
Correm em busca da direcção
Fogem da dor conhecida
Fingem ser escuridão
De uma ligação esquecida.

Mas não questiono a evidência
De um libertino sentimento
A que muitos chamam sapiência
De longos anos de sofrimento
Ao lado da mãe ciência,
Gritando e chorando o mandamento
Do devaneio da inconsciência.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Geometria Lembrada



Em círculos
Em quadrados
Em grandes cubículos
Ou em pequenos arados...
Tudo peca por passar
Na efemeridade da lembrança
Mais rápida que o navegar
Em noites de esperança.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Quadrado Espaçoso

Um supremo contradizer
Percorre o frio fogo da paisagem
Acabada de nascer
Sem alma, selvagem.

Invento alegrias goradas,
Fumaça de um belo renascer
Feito de estrelas incendiadas

E provérbios por dizer…


Confirmamos o poder da plenitude e mesmo sem querer somos levados pela onda da inquietude tão irrequieta e inconstante. Não somos nada perante a imensidão acrílica deste quadrado espaçoso a que chamamos esfera terrestre. Confiamos nas estrelas, aquelas luzes cintilantes que nada têm de astros, mas que com eles se confundem e somos como que empurrados por uma força oculta e tentadora para o fundo da inquietação vivencial...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Estradas Repletas

Hoje o dia está triste,
Mas na sua tristeza indelicada
Olho a estrada repleta,
Rua de gente, apinhada,
Rua tão cheia e deserta,
Rua de poesia criada...

Não sei o que me deu hoje, mas acordei e olhei a estrada da minha rua de uma forma diferente. Hoje, decidi caminhar no seu alcatrão pisado e entrelaçar o rigor das linhas pálidas num canto profundo criando um Blog para o mundo. Hoje, decidi que as palavras são o meu maior aliado nesta guerra de pretensões e sensações a que muitos chamam vivências, mas eu prefiro denomina-las de reacções apáticas. Sim, apáticas. Porque a apatia é a poesia desta rua imóvel, impávida e serena no seu ritmo quieto.

Hoje proponho-me a ser fiel caminhante das Estradas Repletas desta vida!