domingo, 12 de outubro de 2008

Manhã Outonal


A manhã explode no esplendor do murmúrio de uma aragem. Sente-se o cantar dos pássaros a passear pelos labirintos recônditos daquela floresta a que chamam nascer do sol. Afasto a cortina e um raio quente beija-me a pele. Por momentos, penso que és tu que me tocas suavemente, mas essa ilusão desfaz-se em menos de um segundo. Olho o céu despido de nuvens e concentro o meu desencanto numa folha de Outono caída. É essa folha sinónimo de vontade, pois é ela que herda a riqueza táctil do vento nocturno, enquanto eu durmo no alcatrão polido da cama morna. Morna, sim, porque tu não estás! A solidão faz-se prantear de uma distância caiada de esperança. Espero-te, não nego, esperançosa e faminta de tudo o que simbolizas. Espero-te na foz de um semblante carregado que perdoa a ausência com beijos e carícias.
E morro nesta espera de nada. Trespassa-me uma espada de gumes duvidosos, levando-me a contenda da dispersão para longe da minha alma desamparada. E apenas esboço um leve gemido de dor pela perda daquilo que nunca tive, uma perda falseada pelos alardes silenciosos de uma manhã outonal.

5 comentários:

Rafaela Bárbara disse...

muito sinceramente, gosto mais de ti assim, a escrever assim, vem com mais sentimento, onde as palavras nao estam para fazer vez, estao porque as sentes, porque tem de estar...este estilo, uma prosa poetica talvez assenta te tao bem...
esta manha outonal, é a manha de todos os meus dias...

Tentativas Poemáticas disse...

Olá Natália
Faço minhas as palavras bonitas e sinceras da Bárbara.
A blogosfera reclama por si.
Desejo que esteja tudo bem consigo.
Beijinho
António

bsh disse...

Querida Natália,

Lindissimo.

http://desabafos-solitarios.blogspot.com/

Anónimo disse...

Geralmente fico arrepiada ao som de uma bela música, perfeitamente afinada. Arrepiei-me ao ler este texto.Brilhante.

Giovanni Giorgetti disse...

Fantástico texto! até amanhã=)
Beijinho